O impacto das atividades humanas nos ecossistemas continentais temproduzido uma contínua e inexorável deterioração da qualidade das águas e alterações profundas no ciclo hidrológico, nos ciclos biogeoquímicos e na biodiversidade. Esse processo de deterioração causa impactos econômicos e sociais e, em alguns casos, alterações permanentes e irreversíveis em lagos, rios e represas. Os custos para tratamento da água e para a recuperação de lagos, rios e represas são muito elevados. A eutrofização das águas interiores é outro impacto de considerável efeito. Eutrofização, aumento de toxicidade, sedimentação de rios e lagos e alterações na hidrodinâmica são algumas das consequências mais comumente encontradas em quase todos os continentes, regiões e países. Contaminação química das águas e efeitos nas redes alimentares são outras consequências das atividades humanas.
O monitoramento das causas e consequências dessas alterações é fundamental para o diagnóstico dos processos da deterioração e para a recuperação dos ecossistemas. Substâncias tóxicas e elementos químicos, como metais, contribuem para a deterioração das águas continentais e tornam complexa a identificação dos impactos e o diagnóstico nos ecossistemas aquáticos e na biota aquática. Lagos, represas e rios de regiões temperadas e regiões tropicais diferem em relação ao grau e à progressão da eutrofização e da contaminação, no tempo de resposta das comunidades e na concentração de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo. Também há diferenças no limiar das concentrações de nitrogênio e fósforo necessárias para desencadear o processo de eutrofização. Mudanças globais afetam rios, lagos, represas e áreas alagadas e produzem efeitos sinérgicos relacionados ao desenvolvimento de vetores que afetam a saúde humana.
1.16.1 Principais impactos e suas consequências
Todos os ecossistemas aquáticos continentais estão submetidos a um conjunto de impactos resultantes das atividades humanas e dos usos múltiplos das bacias hidrográficas, às quais lagos, rios, represas, áreas alagadas e brejos pertencem. Esses impactos, de forma direta ou indireta, produzem alterações em estuários e águas costeiras. À medida que os usos múltiplos aumentam e se diversificam, mais complexos se tornam os impactos e mais difícil a solução dos problemas a eles relacionados. Há impactos naturais, provenientes dos próprios mecanismos de funcionamento dos ecossistemas e das bacias hidrográficas, e impactos produzidos pelas atividades humanas.
Os impactos naturais são, de certa forma, absorvidos pelo ecossistema, que tem mecanismos apropriados e de múltiplos controles para reproduzir e minimizar os impactos naturais. Por exemplo, as respostas de rios e lagos às flutuações de nível que ocorrem nas grandes planícies de inundação dos Rios Amazonas e Paraná fazem parte de um processo natural de funcionamento e de um ciclo de respostas que está perfeitamente integrado a esse processo natural (Junk et al., 2000); entretanto, o somatório dos impactos produzidos pelas atividades humanas é extenso e produz grandes alterações na estrutura e na função dos ecos sistemas aquáticos.
Os impactos classificam-se em: primários, de efeitos imediatos e relevantes (como a interferência no ciclo hidrológico ou a entrada de poluentes por fontes pontuais); secundários, de efeitos muito mais difíceis de detectar ou mensurar e igualmente severos (por exemplo, alterações na rede alimentar, cujas consequências podem aparecer muito mais tarde no processo); ou terciários, com respostas complexas de longo prazo (como alterações na composição química do sedimento ou modificações na composição de espécies). Impactos cumulativos consistem justamente na interação e sinergia de diferentes efeitos físicos, químicos ou biológicos de longa duração e que podem tornar-se irreversíveis ao longo de vários anos ou décadas, dada a extensão do acúmulo de alterações que ocorrem.
Com relação aos diferentes impactos das atividades humanas, é necessário considerar: a) a quantificação desses impactos e a sua detecção ainda em um estágio que possibilite ações reparadoras ou mitigadoras; b) a avaliação econômica dos impactos e seus possíveis efeitos nas socioeconomias regional e local, em função da degradação. A história dos impactos das atividades humanas no ciclo da água e nos processos de degradação da sua qualidade é longa. Entretanto, pode-se considerar que o grande volume e complexidade das alterações ocorreram principalmente após a Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, como resultado da interferência direta das atividades humanas no ciclo hidrológico e como consequência da urbanização, dos usos do solo para agricultura e da irrigação. As várias atividades humanas e o acúmulo de usos múltiplos implicam diferentes ameaças e problemas para a disponibilidade de água, causando riscos elevados.